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Cartilhas demais, atitude de menos!

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Wilse Arena - escritora e professora universitaria - 13-08-13

Caros leitores do Jornal A TRIBUNA, não sei o que se passa na cabeça daqueles que ocupam cargos políticos e até mesmo de sindicatos ou ONGs neste país, ou melhor, até sei, mas não é minha intenção discutir o mérito desta questão, nesta oportunidade.
Quanto mais os problemas se avolumam no país, mais se FALA na importância da educação, porém, NADA SE FAZ DE CONCRETO para que ela realmente consiga cumprir o seu papel, que não é de modo algum resolver os problemas econômicos, políticos e sociais do país, mas, sim, preparar melhor o seu povo para enfrentá-los com maior consciência, maior competência, mais instrumentalizados e com capacidade e coragem de conquistar e defender a sua cidadania, sendo cidadão, e não uma marionete nas mãos daqueles que tiveram a oportunidade de frequentar as melhores escolas, ler os melhores livros, participar dos melhores debates, ter as melhores experiências de vida.
Mas, como medida paliativa ou talvez para mascarar tudo isso, o que é que tem se tornado (desculpem-me o termo) “uma praga” neste país? As cartilhas! Não, não estou falando de cartilha de alfabetização, tipo “Caminho Suave” não. Estou falando de cartilhas com informações básicas sobre assuntos dos mais diversos, que são distribuídas, gratuitamente, por instituições e organizações governamentais e não governamentais no intuito de “informar e/ou instruir” o povo sobre questões básicas na área da política, saúde, trânsito, amamentação, violência, segurança, entre muitas outras!
Penso que chegamos no limite. Entendo que, em alguns casos as cartilhas são válidas, como no caso de vacinação, orientação para o trânsito, mas isso não significa que servem para qualquer coisa.
Outro dia, por exemplo, vi uma propaganda na TV que estão criando uma cartilha para orientar pais que estão se divorciando: como devem falar sobre o assunto com os filhos, como devem se portar diante deles, etc.
Ora, por favor, pais que chegam a se separar e precisam de uma cartilha para aprender esse tipo de coisa, deveriam frequentar um psicólogo e/ou um grupo de apoio do tipo “pai/mãe recém separados anônimos”. Com certeza aprenderiam muito mais lá do que lendo uma cartilha. Porque, do meu ponto de vista, o que lhes falta é maturidade, experiência de vida, de trato com as pessoas e, consequentemente, com os filhos. Será que isso se aprende por meio de uma cartilha? Afinal, uma separação não acontece de repente, é resultado de um longo e conflitivo processo.
Pais que não sabem o que e como fazer em relação aos filhos em situações desta natureza é porque sempre estiveram ausentes, distantes, nunca se interessaram em ouvir os filhos, em saber sobre seus interesses, desejos, sonhos e medos mais íntimos, enfim, em manter um diálogo franco com eles sobre as coisas da vida em geral.
Daí, explicar uma separação e lidar com as reações dos filhos realmente torna-se uma tarefa bastante difícil. De toda forma, não é lendo uma cartilha baseada em experiências alheias ou em princípios da psicologia que vão conseguir mudar de atitude e aprender o que precisavam saber desde que se casaram. Não se amadurece assim, de uma hora para outra, lendo uma cartilha!
Feito estas considerações, penso que uma cartilha, por si só, não tem sentido nenhum. Seu sentido, está na atitude de quem a utiliza como um meio e não como fim, ou seja, como um instrumento pedagógico que deve ser trabalhado por pessoas capacitadas, capazes de torná-la uma grande aliada, não só para instruir, ou distribuir informação, mas, sobretudo, para contribuir na formação de inúmeras pessoas, independentemente de idade, etnia, classe social, confissão religiosa, entre outras, o que vai exigir uma tomada de atitude (decisão, ação) da parte delas também.
No caso de casais que ainda não se deram conta da grande tarefa que é conviver na diversidade, cuidar e educar filhos em um mundo em constante movimento e mudança e cheio de contradições — e se assim não fosse, não teria graça, porque também não teria vida — casas de apoio psicológico seriam de muito mais utilidade. E vale lembrar que isso serve para outras tantas realidades.

(*) Wilse Arena da Costa – doutora em Educação: Psicologia da Educação – Professora Associada do Departamento de Educação/ICHS/CUR/UFMT (aposentada) e Escritora. Contato: [email protected]

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