São José do Povo, uma singela homenagem

A linda e pacata cidade de São José do Povo está localizada a 48 km de Rondonópolis. Foi emancipada no dia 04 de julho de 1989, atendendo as motivações dos então moradores que desejavam se aproximar do poder político a fim de ter mais voz para os serviços necessários a comunidade, pois havia um distanciamento, em função da cidade ser distrito de Rondonópolis, levando em conta as dificuldades de comunicação e deslocamento da época.

A colonização da cidade de São José do Povo remonta à década de 1950, e tem relação direta com o Sr. José Salmen Hanze conhecido como Zé Turquinho, um libanês que veio para o Brasil, fugindo da crise de seu país, na expectativa de melhorar financeiramente de vida. Em 1950, através do então deputado Rachid Mamed, teve orientações de como requerer terras em Mato Grosso, um processo comum em função do projeto de Getúlio Vargas, com a Marcha para Oeste, que objetivava ocupar o interior do Brasil.
Em 1963, de posse de alguns lotes na região que hoje é o município de São José do Povo, Zé Turquinho demarcou e a distribuiu terrenos a quem quisesse cultivar, onde geralmente plantavam arroz, e pagavam os lotes parcelados em até cinco anos, conforme relatos de moradores pioneiros. Com a chegada de pessoas em busca de terras produtivas, trazendo sonhos e esperanças de uma vida mais digna, a região foi ganhando um aspecto de povoado com casas de sapê e adobe e posteriormente de alvenaria.
Começava ai uma comunidade que viria a apresentar um modo de vida desejado por muitos, em tempo de velocidade. Ao chegaram, esses colonos, eram recebidos com uma paisagem composta por grandes plantações de arroz, o que simbolizava e confirmava que ali eram terras de fartura.
Ao passar de anos, São José do Povo, mantém até os dias atuais uma temporalidade diferente da lógica predominante da modernização, a cidade possui em si, uma dinâmica singular de desenvolvimento e algumas vezes, infelizmente é estigmatizada por isso, enquanto deveria ser valorizada por conseguir manter com sensatez, uma interessante cultura de resistência ao aceleramento que a sociedade moderna impõe.
Isso pode ser observado no comportamento cotidiano da população de São José do Povo que preserva um modo de vida mais tranquilo, com presença de valores tão importantes, conseguindo defender o lado positivo desse processo.
Em São José do Povo, o tempo passa diferente. As luzes dos lares se apagam cedo e me surpreendo ao deixar a cidade adormecida e após viajar em alguns minutos, encontrar um centro como Rondonópolis agitada, com grande parte da população dando sequência a um dia um pouco mais longo. A diferença temporal é evidente e instigante. Vivem mal os são-joseenses do Povo, que se encontram inseridos em uma lógica contrária aos conceitos de modernidade?
Não! Vivem sabiamente bem. A modernização nessa cidade talvez signifique a negação da relíquia da boa sociedade onde a vida é compartilhada com bons vizinhos, e perder isso é perder muito, para alguns, é perder tudo. Fazer parte de uma cidade que consegue manter um ritmo de vida tranquilo é ter o prazer de sentir alguém diante de uma sociedade que diariamente inviabiliza as pessoas.
Nas grandes cidades, o fluxo constante de sujeitos torna o ambiente, um espaço de estranhos, enquanto em lugares como São José do Povo há uma gostosa sensação de que todos se conhecem, com laços tão constantes, quase que de parentesco. Por isso, em São José, as relações são bastante valorizadas e preservadas por seus moradores, contrariando as relações superficiais e efêmeras da sociedade urbano-industrializada.
Um feliz aniversário a essa cidade querida. E parabéns aos moradores por manter um padrão de tempo e espaço diferenciado que contribui na formação dos sujeitos que ai vivem.

(*) Leidiane Gomes de Souza é aluna de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Educação UFMT-Rondonópolis. E são-joseense do Povo. E-mail: [email protected]