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, 27 maio 2024
 
 

Agora levados a sério

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Raramente fujo do compromisso de escrever sobre os temas centrais desta coluna, mas esta semana peço licença para discutir o assunto do momento no país: as manifestações de descontentamento popular.
Primeiro, percebo com muita alegria e acima de tudo, de esperança renovada, o surgimento desse movimento. Sem dúvida é sinal de que ainda há vida inteligente e de que nem só de futilidades vive o brasileiro. Nem mesmo a Copa das Confederações no país do futebol foi suficiente para aplacar a organização natural que foi ocorrendo.
Até então, somente em momentos extremos e raros manifestamos nossos desejos, mas sempre com um protesto claro e alguns objetivos aglutinados. Desta vez não. Há uma avalanche difusa de descontentamentos que até a pauta de reivindicações está difícil de organizar.
Difícil porque os governos estão acostumados a lidar com questões pontuais e não é esse o caso. Garanto que não é necessário qualquer estudo mirabolante para saber o que o brasileiro quer. Todos sabem exatamente (tanto as organizações públicas constituídas como os manifestantes e a população em geral) o que precisa ser feito.
Há de se destacar um real serviço que as redes sociais foram capazes de prestar. Mais de 70% dos manifestantes se mobilizaram através dela. Mesmo sendo um caldeirão de besteirol, tolices e vaidades na maioria das vezes, muito do sentimento do povo é passível de filtro nesse espaço.
As empresas privadas já perceberam isso há muito tempo, mas as organizações públicas nunca levaram nada disso em conta, como de resto as reclamações populares. Governam à revelia do que o povo pensa e quer. Com algumas variantes modernas de consumo, tem adotado a antiga receita de pão e circo.
Outro aspecto fundamental está sendo o engajamento dos jovens. Mas não apenas deles. Embora sejam a maioria perceberam-se muitos de cronologia avançada e jovens de espírito. Este é um movimento do povo brasileiro e não apenas de uma classe ou de uma determinada idade. Mais um fato para renovar as esperanças num país melhor.
A mídia tradicional, sempre é um caso a parte. Como de resto as autoridades constituídas, não entendeu bulhufas sobre o que estava acontecendo. No início, não acostumada com a participação cívica de descontentamento levaram a taxar os manifestantes como baderneiros de plantão, apenas mostrando os quebra-quebras.
Só bem mais tarde percebeu o que de verdade estava acontecendo. Mudaram rapidamente de opinião e de destaque nas reportagens. Uma pena, pois poderia ter sido um dos veículos protagonistas do movimento.
Ela também não está acostumada a receber críticas. Não gostou nada ao ser hostilizada (principalmente o rádio e a TV). É preciso entender que os meios de comunicação também cometeram graves falhas na sua atividade e precisam recompor seu modus operandi. Algo que antes de tudo precisa de humildade e competência. Dois atributos que poucas vezes andam juntos nesse meio.
Localmente vi duas pérolas sobre isso. Uma de um apresentador de programa matinal criticando veementemente a própria crítica, ainda que verbal, recebida diretamente sobre os meios de comunicação, como se fossem imunes e não tivessem qualquer responsabilidade sobre o que comunicam. Como afirma um recente comercial: é necessário rever os conceitos.
O segundo é de outro eloquente do rádio local, afirmando em plena sexta-feira (um dia depois de mais de um milhão de pessoas irem para a rua protestar) de que as redes sociais já estavam cansadas dessas manifestações e de que a maioria queria de volta as fotos de ursinhos, bichinhos bonitinhos e frases de efeito. Haja paciência. Com tamanha inteligência tendo espaço na mídia não é de se admirar que o rádio esteja perdendo espaço publicitário para outros meios.
Há muito tempo tenho dito que os gestores do rádio precisam exigir mais cultura, conhecimento geral e formação dos comunicadores e jornalistas que frequentam seus ambientes. Quem sabe isso também não seja possível mudar com os manifestos que estão ocorrendo.
Surgem agora principalmente nas mídias sociais, manifestações de que cada reivindicação tem seu endereçamento correto. De modo prático sim, mas do ponto de vista da legitimidade, um novo engano. Não são moralismo e responsabilidade pontual. O que está sendo demandado é uma mudança de postura, de interesses, de moral e ética.
Não é uma questão de endereçamento, tentando dizer “isso não é comigo”. Botar os mensaleiros condenados na cadeia, por exemplo, também diz respeito a presidente, sim. É de responsabilidade legal do STF, mas basta ela explicitar seu desejo que muita gente vai mudar de lado imediatamente e haverá mais celeridade, a quem cabe colocar os tais atrás das grades. Ninguém mais é tolo o suficiente para ignorar que as influencias dirigem as instituições e, por conseguinte, o país.
Todos têm um pouco de culpa sobre a situação que aqui está. De todas as reivindicações, cada órgão, setor, político ou gestor, precisa pegar o que lhe cabe e dar andamento. Definitivamente não é uma questão de endereçamento.
A começar pelo povo que está dando sinais de que a sonolência acabou, mas continua subornando o guarda de trânsito, por exemplo. Vamos começar a extirpar a corrupção (uma das grandes bandeiras) fazendo a nossa parte, lá na nossa casa.
O Brasil certamente não será um novo país, mas um país diferente. As mudanças não serão drásticas, mas acontecerão. Já estão ocorrendo. A começar dentro de nós, mais cônscios das nossas responsabilidades e de nossos direitos.
Muitas diretrizes serão reordenadas. Muitos posicionamentos deverão mudar. A PEC 37 é apenas um caso desses. Será que todos aqueles que perfilavam argumentos a favor (alguns ingenuamente inclusive, se prendendo exclusivamente as leis em si) o fariam de novo, agora?
Vi neste veículo de comunicação artigos a favor, destacando a legalidade da PEC, mas se esquecendo da legitimidade e passando por cima dos já evidentes manifestos públicos contrários, principalmente nas redes sociais. Em todos os setores e todas as manifestações agora abertas já foram em algum momento ditas, mas infelizmente não levadas a sério.
Ou será que ninguém do legislativo, do executivo ou do judiciário havia notado nenhuma das reivindicações que agora tomaram as ruas? Não entendo o espanto. A verdade é que ninguém até então havia levado a sério as reclamações. Estavam no ambiente virtual, inofensivo até então.
Ficou claro agora que o virtual é físico (tem gente e sentimentos nesse lugar) e que o físico se torna virtual, sempre que há interesse para isso.
A última piada esdrúxula foi reduzir as passagens na véspera ou já no outro dia, como forma de “se antecipar ou atender aos protestos” tentando enfraquecer ou quem sabe tornar as manifestações menos diretas e hostis. Sinal de pânico cerebral geral. Mas vai melhorar.
Boa semana de Gestão & Negócios.

(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É professor do IBG, workshopper e palestrante – [email protected]

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  1. Fico feliz e me sinto orgulhoso por fazer parte desse momento histórico, a luta é dura, mas não podemos desanimar ou enfraquecer, amanhã é dia de manifestação, todos nós temos que cumprir nosso DEVER CIDADÃO, acredito que aquele que não participa esta satisfeito com a situação atual do Municipio/Estado/País.

    Quem já foi atendido no P.A?
    Usa transporte Público?
    E a duplicação da BR-364?
    PEC-37, Golpe de Estado?
    Reforma Tributária?
    Qaulidade da Educação?

    São tantos os problemas que nos atinge, vamos demonstrar nossa indignação amanhã…,
    #VemPraRua, amanhã na Praça Brasil, concentração a partir das 15:00 horas

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