Ouvi o eco dos meus passos,
Que deitavam sobre a areia e
Permanecia inquieto como arte.
O silêncio batia violentamente em minha face,
Tentava fugir pelo vento
Mas deparava-se rotineiramente comigo.
Soprava meus cabelos
De uma forma irregular e incalculável.
Vesti toda coragem que tinha nas mãos
E ignorei os arrepios que ele provocava.
Continuei sim pisando naquela areia fina,
Tentando formalmente não ferir sua privacidade.
Porém, éramos ser da mesma existência.
Controlei-me infinitamente, até que
Sem querer desativei um búzio inerte
Que se encontrava a desbotar ao sol.
Fitei meus olhos cheios de brilho opaco
Na cena que o tempo me reservou.
Acordado ainda colhi todos os cacos
Daquele búzio fraturado e alheio,
E pensei muito.
Estavam ali outros búzios
Inanimados e rebeldes.
Talvez diante de uma beleza
Pouco impressionante e frágil.
Interroguei-me mentalmente
E fui além.
Concluí que certas ondas possam ter
Os arrastados sem medida e deixaram ali.
Mais tarde algum colecionador
Leigo e ignorante pudesse apanhá-los.
Resolvi então seguir meu caminho
Por aquele solo arenoso.
Adiante ainda pude olhar para trás
E avistei dezenas de búzios despedindo,
Acenei, mais já era tarde.
Pois as ondas malvadas sepultavam
Impiedosamente novos búzios,
Naquela areia salgada e úmida,
Que eternamente aguardará toda humanidade.
(*) Francisco Assis Silva é Bombeiro Militar – Email: [email protected]