Anemia, segundo a Organização Mundial da Saúde, é definida como “um estado em que a concentração de hemoglobina do sangue é anormalmente baixa, em consequência da carência de um ou mais nutrientes essenciais, qualquer que seja a origem dessa carência”. A anemia por deficiência de ferro (ferropriva) é a carência nutricional de maior prevalência no mundo, comportando-se como uma endemia que atinge todos os grupos e estratos sociais, embora ainda ocorra com maior frequência entre indivíduos vivendo em condições socioeconômicas e ambientais negativas.
As crianças menores de dois anos de idade e aquelas em idade pré-escolar (2 a 5 anos) compõem os grupos mais vulneráveis para o desenvolvimento da anemia ferropriva, pois necessitam de um alto aporte de ferro para o crescimento. Contudo, costumam apresentar dietas com quantidade insuficiente do mineral, especialmente quando o aleitamento materno é substituído precocemente pelo leite de vaca.
Jordão et al. (2009) revisaram estudos sobre anemia no Brasil em crianças menores de cinco anos e encontraram alta prevalência (53%) de anemia nessa faixa etária. As regiões em que a anemia foi encontrada em proporções maiores foram Norte e Centro-Oeste. Os pesquisadores destacaram, contudo, que a maioria dos trabalhos foi realizada em creches, visitas domiciliares e Unidades Básicas de Saúde, sendo necessárias mais pesquisas de base populacional, como a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS 2006). A PNDS avaliou pela primeira vez em nível nacional a prevalência de anemia e encontrou o resultado de 21% de prevalência em crianças de 0 a 59 meses.
O combate à anemia carencial na infância por meio de ações de saúde pública é fundamental, pois esta condição afeta o desempenho cognitivo e comportamental e o crescimento de crianças, além de comprometer a função imune e aumentar o risco de infecções e de mortalidade. As primeiras iniciativas nas décadas de 1980 e 90 foram pouco efetivas, a exemplo do programa Vivaleite, com distribuição de leite fortificado a famílias de baixa renda. As justificativas para a baixa efetividade envolvem a diluição do produto pelas famílias e a falta de um programa educativo permanente acompanhando a sua realização.
Em 2004, foi implantado o Programa de Fortificação de Farinhas de Trigo e de Milho com ferro e ácido fólico, cujo sucesso no controle da anemia é discutível, uma vez que parece estar restrito a grupos populacionais nos quais o consumo dos derivados do trigo é frequente e a quantidade com que é consumida é regular. Em 2005, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF), que consiste na suplementação medicamentosa do mineral para crianças de 6 a 18 meses de idade, gestantes a partir da 20ª semana e mulheres até o 3º mês pós-parto, com distribuição gratuita pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em todos os municípios brasileiros. Segundo Szarfarc (2010), foram escassos e contraditórios os estudos sobre a efetividade do PNSF.
Reconhecendo que a anemia continua nos dias atuais a ser um importante problema de saúde pública, o Ministério da Saúde elaborou em 2014 a estratégia NutriSUS, que irá operacionalizar a fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó (vitaminas e minerais, incluindo o ferro). Esta ação se soma às anteriores no combate integrado da anemia, tendo como objetivos potencializar o pleno desenvolvimento infantil, contribuir com o alcance das metas de desenvolvimento do milênio (acabar com a fome e a miséria e reduzir a mortalidade infantil), melhorar a ingestão de micronutrientes e contribuir na redução de outras deficiências, como de zinco e vitamina A.
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