14.3 C
Rondonópolis
, 26 maio 2024
 
 

Cabeça do Cachorro

Leia Mais

- PUBLICIDADE -spot_img

Hermelio Silva - poeta - escritor-01-08-15Jactar-me era no melhor momento que deitava palavras ao papel, manuscritamente, em letras de forma garrafais. Isso era tudo para mim. Escrever ao léu, com e sem nexos, sem compromissos e buscando no dicionário físico os significados das palavras e rebuscando aquelas que o livro aludido colocava mais dúvidas no meu texto. Escrevi até livro assim. Não registro o momento da mudança do lápis para a esferográfica. Depois veio a máquina de escrever, um sonho acalentado há muito tempo. Pequena, verde e madura, pois era usada. Dediquei algumas incursões naquelas teclinhas pretas com as letras brancas. Alguém da minha prole guarda o equipamento para expor no futuro, acho, pois eu já o teria doado. O advento do computador até chegar a mim demorou um bocado, primeiro pelo apego a minha Olivetti Lettera 82, e óbvio a falta da grana para aquisição do dito cujo.
Alcançado o estágio da aquisição do computador, advieram as novidades. Não precisava mais jogar os papeis fora, em caso de erros, nem usar borrachas ou outros apetrechos. Poderia reescrever indefinidamente, além das facilidades de pesquisas diversas, dicionários, rimas, entre tantas outras vantagens. Tive algumas recaídas, coisas de libriano.
Esse último equipamento encantou-me por anos a fio, cada dia muitas coisas novas nasciam ou eram-me apresentadas. Não prorroguei a assinatura da revista semanal, nem perdi mais tempo assistindo tantos telejornais e já não saía da frente dele para assistir ao futebol. Agora, com os novos e pequenos equipamentos de bolso, de mão, estão me afastando do anterior, pois posso usar em qualquer lugar, até na cama, deitado. O único problema é o teclado, mas tenho receio, que em breve será substituído por um teclado de voz, com todas as vantagens do físico. Será?
Bem, ainda persisto nos livros impressos, mas já dou minhas cacetadas nos virtuais, com textos até para facebookeanos, e alguns poemas. Ninguém vive de publicação de livros aqui no estado, pois ele não acredita e nem incentiva de forma efetiva. Nenhuma escola da minha cidade adota um livro de autor local, e olha que aqui temos o douto e imortal Ailon do Carmo.
Temos muitas cabeças-duras mandando e seus mandados dóceis. Entretanto aqueles adventos hão de trazer o saber da valorização que se dá ao seu povo, propagando seus feitios no próprio seio, já tão divulgado e inserido no nosso meio por tantos povos, e novos, que aqui chegaram, mas com pensamentos diferentes dos que aqui estavam. Propagando sua cultura nativista a si, em si e noutros cantos, no entanto chegará um dia que seus filhos terão que falar do local onde nasceram, mesmo não se esquecendo dos seus genitores de outras terras. Eu poderia estar aqui enaltecendo as minas gerais e a terra de todos os santos, mas meu coração lateja esse pedacinho do sudeste mato-grossense.
A Cabeça do Cachorro, de boca aberta no extremo noroeste do país, a cabeça do cachorro, agora fechada, aqui no noroeste/norte do estado, delineadas nos seus mapas, as formigas cuiabanas que regurgitam o alimento na época da seca, testemunharão meu presságio da adoção, mesmo que seja em ecrã táctil, e não giz escolar, se é que ainda existe. Fico do lado de cá do meu mundinho home office, navegando em todos os mares revoltos ou não, esperando a taxação das grandes riquezas e não o acréscimo de mais alguns anos para o povo usufruir do seu direito a aposentadoria.

(*) Hermélio Silva é scritor e membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras, cadeira número 6

- PUBLICIDADE -spot_img

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Publicidade -
- PUBLICIDADE -

Mais notícias...

Fiéis lotam a Praça da Apoteose para participar da Marcha para Jesus

A Marcha para Jesus do Rio de Janeiro, na 17ª edição levou milhares de fiéis para o centro da...
- Publicidade -
- Publicidade -spot_img

Mais artigos da mesma editoria

- Publicidade -spot_img