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Rondonópolis
, 28 maio 2024
 
 

A respeito de uma estátua

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Confesso que gostaria de passar por cima do assunto, de não questiona-lo sob hipótese alguma, tal a melindrosidade do tema; contudo, o meu dever de historiador, de memorizador e debatedor dos fatos relevantes da vida de um povo, convenceu-me da necessidade cívica e social de abordá-lo, ainda que sucintamente. Refiro-me à estátua de “O laçador”, medindo 07 metros de altura, obra do conceituado escultor Lázaro Ramos, erguida na Avenida Júlio Campos, proximidades do Centro de Tradições Gaúchas (CTG), em nossa cidade. A ideia e projeto do referido monumento foi obra e graça do Vereador Olímpio Alvis (PR), com o pressuposto objetivo de homenagear a significativa colônia gaúcha aqui radicada.

Ao que se sabe e já fora divulgado pela imprensa local, para a execução da referida estátua a Prefeitura Municipal terceirizou a obra para a empresa JP Construções, ao preço de R$ 35.700,00 (trinta e cinco mil e setecentos reais). A obra foi embargada pelo Tribunal de Contas do Estado, impedindo o pagamento pela Prefeitura. Ao final do serviço, em dezembro de 2013, um fato inusitado e até irônico aconteceu: não havendo recebido o valor integral do seu crédito, o artista cobriu com plástico preto e entrelaçou com cordas “O Laçador”, afixando aos pés do monumento uma placa com os dizeres ameaçadores de que a estátua “seria demolida, por falta de pagamento ao artista”… Essa situação constrangedora permaneceu por quase um mês, até a quitação, ainda não bem esclarecida.

A referida homenagem, a meu despretensioso entendimento, em que pese o indiscutível merecimento da colônia sulista em apreço, peca pela descuidosa precipitação. Convenhamos que um vereador local, filho desta cidade, dotado de certa cultura e, portanto, conhecedor profundo da história do município, como o é o edil idealizador do projeto, em sã consciência jamais deveria ter proposto essa homenagem agora, em detrimento da prioridade de figuras mais proeminentes na nossa história, como Marechal Rondon e Otávio Pitaluga, além dos primitivos habitantes da região – os índios Bororos, e os fundadores goianos, nordestinos, paulistas e mineiros. Tenho certa convicção de que até os próprios homenageados se sentiram constrangidos com a mesma, visto que, poderosos economicamente, mostraram-se indiferentes ante a aflitiva situação…

Como se não bastasse violação à prioridade histórica retro citada, não foi feliz também o idealizador do projeto supra, quanto à escolha do local para a execução de sua pretendida homenagem: a direção do CTG negociou a extensa área de terreno que havia na frente do clube, na qual foi edificada uma grande empresa, cujo prédio retirou toda a identidade visual do mesmo. Hoje, quem circula pela Avenida Júlio Campos, não mais tem aquela sensação histórica de ver e apreciar aquele tradicional clube gaúcho. Por conseqüência disso, a estátua fora erigida no outro lado da avenida, em frente ao prédio de uma loja de material para construção – e não do CTG, não tendo ela, pois, nenhuma ligação visual, simbólica ou sentimental com o clube, ficando desconectada do seu objetivo, e o pior – postada quase ao meio da rua, contribuindo ainda mais para a caoticidade do já tumultuado tráfego de nossa cidade. Aaah meu Deus, que ideia…

(*) Ailon do Carmo é advogado e historiador local, membro da Academia Mato-grossense de Letras (Cadeira nº 12), e da Academia Rondonopolitana de Letras (Cadeira nº 1).

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