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Desejo e Perigo aborda romance chinês

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Num primeiro momento, Desejo e Perigo parece um estranho no ninho na filmografia de Ang Lee, mas, aos poucos, as peças se encaixam.

Como em seus trabalhos anteriores, o foco recai sobre pessoas que não se adaptam a um mundo de regras rígidas e tentam, de alguma forma, descobrir sua verdadeira natureza. Sejam esses personagens duas irmãs na Inglaterra do século 19 (Razão e Sensibilidade), um cientista cujo trabalho deu errado (Hulk) ou dois caubóis apaixonados (O Segredo de Brokeback Mountain).

Desejo e Perigo, que estreia nesta sexta-feira no Rio de Janeiro e em São Paulo, tem como figura central um casal de amantes – mas cada um espera algo diferente desse relacionamento. Ela é Wong Chia Chi (Wein Tang) uma jovem estudante cujo pai foge para a Inglaterra com a ocupação da China pelos japoneses, durante a 2a Guerra Mundial. Ele é Yee (Tony Leung Chiu Wai, de Amor À Flor da Pele), colaborador dos japoneses e notório torturador.

Wong é uma jovem estudante quando se envolve com um grupo de teatro formado por jovens que montam peças patrióticas. Ela ainda não sabe, porém, que seu maior papel será na vida real. Liderados por Kuang (Wang Lee-Hom), eles armam um plano para matar Yee, e a jovem será uma peça fundamental. Ela se passará por uma mulher casada que deverá seduzir a vítima, deixando-a vulnerável para os amigos o executarem.

Assumindo a identidade de Mak Tai Tai, a moça entra na vida da família Yee, se torna amiga da mulher e, aos poucos, o seduz. Num de seus primeiros contatos, ela o leva ao alfaiate e, enquanto o ajuda com a prova do novo terno, o ouve dizer: “Estou em suas mãos.” Mal sabe ele o quanto essa frase será profética.

Por mais que Yee seja precavido, vive cercado de seguranças e é atento, ele se deixa seduzir por Mak. Mas o grupo de jovens da resistência é mal organizado e acaba se dissolvendo. Só anos mais tarde, em Xangai, o plano será retomado, agora coordenado por uma resistência veterana e mais bem organizada.

Nesse momento, o relacionamento entre Yee e Mak ganha contornos tórridos de sadomasoquismo, com cenas de uma sexualidade tão contundente quanto explícita, que causou polêmica por onde passou. No entanto, as cenas parecem ter sido meticulosamente pensadas para incomodar mesmo – não pelo visual, pela nudez, mas pelo jogo de dissimulação que cada um dos dois personagens protagoniza naquele momento. Lee usa o sexo para chegar a um fundo psicológico de Mak e Yee.

O filme não mascara e, no fundo, esse é o seu tema: o sexo como instrumento de dominação e manipulação. O problema, para os personagens, é que ambos parecem gostar desse jogo doentio.

O roteiro, assinado por James Schamus (parceiro constante de Lee) e Wang Hui-Ling (O Tigre e o Dragão), é baseado num conto de Eileen Chang, uma das grandes escritoras chinesas do século 20.

O texto de Chang, com cerca de 30 páginas, é seguido à risca em sua estrutura de flashbacks, na ordem dos fatos – e expandido. Lee e seus roteiristas completam todas as lacunas da história original criando uma narrativa tensa na qual os detalhes contam. Assumindo ares de suspense – mantendo um diálogo com Interlúdio, de Alfred Hitchcock – a trama transita entre o romance e a espionagem, tendo a política como pano de fundo.

Nos últimos anos, Lee se tornou um dos principais cineastas da atualidade. Em 2007, recebeu seu segundo Leão de Ouro, no Festival de Veneza – o primeiro foi conquistado dois anos antes por O Segredo de Brokeback Mountain.

Desejo e Perigo é uma das obras mais complexas do diretor. É um filme que requer revisões para que se compreenda cada camada que ali está embutida. Como toda a obra do cineasta, não entrega fácil os pontos, mas recompensa aqueles que se dedicam a desvendá-la.

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