(*) Emerson de Arruda
Durante a minha adolescência ouvi muitas pessoas afirmando que a universidade era o espaço do conhecimento e da reflexão crítica. Alguns diziam que naquele lugar as pessoas poderiam questionar, discutir, debater e pensar de modo diferente dos valores de seu próprio tempo. Em contrapartida, outros declaravam que espaços e concepções religiosas produziam percepções legalistas constituídas de radicalismos incapazes de revisitar e resignificar suas verdades.
O tempo passou rapidamente, cresci e tive a oportunidade de caminhar por algumas universidades que destoaram daquilo que ouvi na adolescência. Encontrei nestes templos do conhecimento, rigidez no campo teórico, preconceitos na abordagem epistemológica e mestres tentando de todas as formas colocar um ponto definitivo nas interrogações que desencadeiam a promoção do conhecimento.
Naqueles dias, quando eu era moleque peralta, soltando pipa, roubando caju e às vezes jogando futebol como goleiro, porque era ruim de bola, havia uma espécie de liberdade, e por vezes, dava para olhar o mundo a partir de vários horizontes, várias lentes e percepções, ou seja, o mundo poderia ser lido segundo os rigores da flexibilidade da imaginação.
Essa perspectiva tornou-se rara. Infelizmente, na grande maioria das universidades faz-se uma leitura do mundo a partir do que um grupo de estudiosos definiu como verdade absoluta. Olhar fora das lentes dos imortais da academia é quebrar um dos mandamentos das sagradas letras do universo acadêmico e profanar a lógica de teóricos-pesquisadores.
Nesse sentido, muitas universidades e faculdades estão perdendo a noção do seu papel como agente de mudança e promoção do rigor critíco-filosófico. Ao invés de serem instrumentos de mediação na formação de indivíduos reflexivos, dialéticos, dialógicos e alteritários estão produzindo pequenos fundamentalistas que só enxergam e analisam a realidade sob os critérios de uma nota só, ou seja, daquilo que para o grupo é verdadeiro.
Por vezes, discursos em formaturas em tempos de colocação de grau são ilusórios e muitos deles, superficiais. Fala-se de aprender com outro, de valorizar a experiência sociocultural do indivíduo, de compreender o campo multicultural, de perceber o valor do diálogo, e etc. Todavia, a prática diária de muitos cursos universitários é alimentada pelo rigor de uma única visão epistemológica.
A crítica comum dos que fazem parte do panteão teórico acadêmico é a de que a religião cristã produz pessoas alienadas, incapazes de dialogar e/ou no mínino de respeitar as decisões e os valores do outro. Para eles, cristãos são indivíduos inflexíveis, destituídos de sensibilidade poética, rigor intelectual e senso crítico. Em outras palavras, os religiosos na avaliação destes profissionais edificam a cada dia pequenos talibãs com o propósito de destruir tudo que é contrário as suas convicções.
Entretanto, por vezes, parece-me que tanto a perspectiva cristã quanto a universitária se igualam nos preconceitos, radicalismos e avaliações insensíveis, fugindo de um diálogo inteligente, gentil e respeitoso. Assim, esses dois templos promovem os seus cultos, possuem seguidores e caminham de acordo com seus livros; mas, poucos estão dispostos a reaprender e a construir novos diálogos.
Deste modo, em muitos casos, a universidade já não é mais um lugar de promoção do conhecimento, de inquietação e construção reflexiva. Ela revela diariamente o seu caráter doutrinador, estabelecendo verdades irrefutáveis, apresentando respostas absolutas e acima de tudo, configurando-se como único espaço seguro de aprendizagem. Estamos vivendo ou apenas reproduzindo um período histórico de radicalismo diplomado.
(*) Emerson de Arruda é pastor da Igreja Presbiteriana Luz e Vida, bacharel em Teologia, licenciado em Filosofia, psicopedagogo clínico e institucional, mestre em Educação pela UFMT – Campus de Rondonópolis e professor nas áreas de Filosofia e Antropologia.
A universidade e a igreja são feitas por homens. Nessas instituições, a concepção de conhecimento é proporcional a cosmo visão de cada um. Não podemos analisar uma religião com base no conhecimento alguns religiosos, nem analisar a universidade com base no conhecimento de alguns docentes, pois os conhecimentos são relativos. Cientista que não acredita em Deus e religioso que não acredita na ciência é um paradigma ultrapassado, fruto de desconhecimento tanto de um como do outro. Na atualidade, é melhor considerar o Pensamento Complexo proposto por Edgar Morin; o conhecimento não se divide, soma-se.