Nas reuniões de família, de escola, de trabalho, ou nos diferentes locais que cotidianamente se frequenta, é muito comum acontecer discussões e perguntas curiosas. Algumas vezes, elas bem poderiam gerar novas ideias e insights criativos.
Aproveitando essa deixa, eu proponho a você testar seu grupo em relação a temas e conhecimentos sobre Rondonópolis. Por exemplo: qual a idade da cidade, quando ela foi ocupada, povoada, colonizada, fundada e emancipada.
Encare o desafio, leia e reflita este texto e terá condição de responder sobre a história de Rondonópolis e, com certeza, você fará a diferença onde estiver.
INÍCIO
Segundo pesquisas realizadas no sítio arqueológico Ferraz Egreja, no local conhecido por Cidade de Pedra, os primeiros sinais de vida em terras que hoje pertencem ao município de Rondonópolis datam de pelo menos cinco mil anos atrás.
OCUPAÇÃO
A partir de meados do século XIX, ocorreram várias tentativas de ocupação na confluência das águas do rio Vermelho e córrego Arareal. Todavia, as referidas tentativas foram passageiras e não redundaram em povoamento: sejam os grupos de índios bororo que se embrenharam pelas matas e nascentes de rios; seja a presença de comitivas de faiscadores que se aventuraram na região à procura de ouro e pedras preciosas; ou ainda o efetivo de destacamento militar que permaneceu em Ponte de Pedra de 1875 a 1890.
Por último, chegaram as expedições da Comissão Construtora das Linhas Telegráficas Gomes Carneiro (1907/1909) sob o comando do então primeiro tenente Cândido Rondon, que determinaram o traçado da linha telegráfica para interligar o Estado de Mato Grosso e Amazonas ao resto do país – fruto dessa investida, é inaugurado em 1922 o posto telegráfico às margens do rio Pogubo (rio Vermelho).
POVOAMENTO
O que se sabe é que a Povoação do Rio Vermelho (antiga denominação de Rondonópolis) se inicia a partir de 1902, com a fixação de famílias procedentes de Goiás, Cuiabá e outras regiões do Estado, junto ao rio Vermelho e ribeirão Arareau, sob a liderança de José Rodrigues dos Santos, Jerônimo Lopes Esteves e outros
Em 1915, havia cerca de setenta famílias na localidade, e essas viviam com certa organização política, econômica (agricultura de subsistência), social (baseada na solidariedade) e tinham preocupação com as primeiras letras.
Os dados desse período são analisados a partir de documentos oficiosos encontrados em baús antigos de famílias antigas: como cartas, caderneta de compras, certidões, fotografias, relatos de vida, etc. Entretanto, até 1915, não se encontrou documentação oficial que comprove a data de fundação do povoado.
FUNDAÇÃO
Somente em 1915 é que o Estado de Mato Grosso se manifesta sobre a existência do povoado local, quando o presidente de Estado Joaquim da Costa Marques assina o Decreto Lei que firma a doação de “2.000 hectares para o rocio da Povoação do rio Vermelho”.
Então, baseado no Decreto Lei nº 395, de 10 de agosto de 1915, foi que a Povoação do Rio Vermelho passou a existir oficialmente no mapa do Estado e teve garantida a sua Carteira de Identidade.
Baseada nessa documentação, a Câmara Municipal local, aprovou a Lei Municipal Nº 2.777 de 22 de outubro de 1997, que regulamenta 10 de agosto como a data para se comemorar a fundação de Rondonópolis – só que a população não foi avisada!
RONDONÓPOLIS NO MAPA
Em 1918, o Povoado de Rio Vermelho passou a ser denominado de Rondonópolis – homenagem realizada pelo deputado e tenente Otávio Pitaluga a Rondon, que então recebe a honraria de Patrono de Rondonópolis.
Em 1920, Rondonópolis foi promovido à categoria de Distrito de Santo Antônio do Leverger (município mais próximo) e comarca de Cuiabá, através da Resolução Nº 814, com projeto de autoria do deputado Otávio Pitaluga.
Nesse período, Rondonópolis passa a ter os cargos de juiz de paz, de escrivão e de delegado e até foi nomeado um professor pelo Estado – Odorico Leocádio Rosa. Em 1922, a vila passou a ter um Posto Telegráfico e em 1926 veio a inauguração da balsa, que transitaria entre as margens do rio Vermelho.
Todavia, quando se previa que Rondonópolis pudesse dar um salto significativo em sua história, seguiu-se grande período de retrocesso.
RETROCESSO
A década de 1920 é marcada por problemas com enchentes, epidemias e desentendimento entre os moradores locais. O local se esvazia nos anos 1930 até final de 1940, e boa parte da população de Rondonópolis sai a procura de diamantes em Poxoréu e regiões vizinhas. Disso resultou o enfraquecimento e o esvaziamento de Rondonópolis.
Sobre isso, o bispo prelado Dom Vunibaldo, de passagem pela região em 1942, relembra: “(…) existiam três casas, a Missão Protestante, a casa do correio e uma tapera onde morava o balseiro.”
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Vale ressaltar que em 1931, o então juiz de paz Ermenegildo Rodrigues dos Santos e o escrivão Joaquim Murta encerram o livro de Registros Civis do local, transferindo os futuros registros e os cargos para a responsabilidade das autoridades de Poxoréu – isso se deu apenas oficiosamente.
De outro lado, em 1924, João Arenas descobre diamante nos garimpos de Poxoréu, que gerou um rápido crescimento daquele lugar. Assim, enquanto o distrito de Rondonópolis ficava quase que completamente abandonado, Poxoréu crescia com a exploração de diamante e conseguia, em 1938, a sua emancipação política.
Diante da proximidade geográfica, Rondonópolis passou à condição de distrito de Poxoréu, através do Decreto-Lei nº 218, de 26 de outubro de 1938, porém continuava Comarca de Cuiabá.
CRESCIMENTO
Contudo, ao passar por Rondonópolis em meados de 1948, o historiador Lenine Póvoas fica encantado com o que vê: “Vi mais de cinquenta ranchos e uma vila que se instalava”.
Finalmente, aquela vila perdida no sertão de Mato Grosso, parecia renascer das cinzas, e o ano de 1948 marcaria a retomada de crescimento demográfico e de crescimento econômico local. A partir daí, Rondonópolis vingou e conheceu o progresso.
Tais dados emergem no momento em que Rondonópolis é inserido no contexto capitalista de produção como fronteira agrícola mato-grossense, resultado da política de Sistema de Colônias implantado pelo governador Arnaldo Estevão de Figueiredo.
Esse dado, aliado a outros fatores, marcam o impulso de povoamento e de crescimento local. São eles: a vinda de migrantes enganados pela Colonizadora Noretama; a pronta ação do governador Arnaldo Estevão às famílias e a distribuição de lotes de terra por ele realizada; a reação do comércio com a instalação da Comissão de Estradas de Rodagem na região; a educação a partir da presença das irmãs da Escola Sagrado Coração de Jesus; a estratégica posição geográfica no entroncamento das BRs 163 e 364; a força de trabalho dos migrantes que aqui se instalaram.
EMANCIPAÇÃO
A emancipação político-administrativa de Rondonópolis só veio a acontecer em 10 de dezembro de 1953, pela Lei 666 que criava efetivamente o município independente de Poxoréu – essa data passa a ser comemorada como aniversário da cidade.
Já o “boom” do município passou a ser realidade depois de 1970: com o advento do modelo agroexportador, da modernização do campo, da melhoria da malha viária e da concretização de políticas de incentivos fiscais do Estado.
POLÊMICA
Quanto à fundação e a emancipação de cidades, estas são parte de processos distintos. A fundação está relacionada ao estabelecimento inicial de um município, enquanto a emancipação envolve a separação de uma parte desse município para formar um novo – porém, ambos processos estão relacionados à organização administrativa e territorial do local estudado.
Então, fica a pergunta que não quer calar: por que o poder público e a maioria da população de Rondonópolis e órgãos da mídia ignoram, não sabem e nem se importam com a data de fundação da nossa cidade (1915)?
Como vimos, antes da emancipação em 1953, Rondonópolis passou por um longo período de caminhada; houve todo um “caminhão de história” que ficou vagando pelos caminhos empoeirados das estradas improvisadas e que deixaram o vilarejo quase que esquecido… Por pouco não se apagou!
Por isso, não se pode ignorar o processo de fundação de Rondonópolis e afirmar que a cidade completou apenas 70 anos de idade.
Não se pode colocar uma pá de cal e deixar de lado o que veio antes, nem ignorar o esforço, o trabalho e a importância dos guerreiros que aqui se estabeleceram e que representam a força de construção, da memória e da história de Rondonópolis.
São os heróis anônimos: migrantes mato-grossenses, nordestinos (da Bahia, de Pernambuco, do Ceará, do Maranhão), paulistas, mineiros, goianos, paranaenses, catarinenses, gaúchos, ao lado de estrangeiros libaneses, árabes, japoneses, espanhóis, sul-americanos e outros.
Finalizo com o meu tradicional “Parabéns, Rondonópolis!” porque hoje, dia 10 de agosto, você está fazendo 109 anos de fundação e, no próximo dia 10 de dezembro, completará 71 anos de emancipação político-administrativa.
(*) Luci Léa Lopes Martins Tesoro, doutora em História Social pela USP. Autora do livro “Rondonópolis-MT um entroncamento de mão-única” – [email protected]
Tenho algumas dezenas de cópias de registros de nascimento e casamentos dos anos 1920 em diante. Meu pai foi registrado aí em 1930
Censo de 1922 consta Rondonópolis município de Cuiabá
Dr Orozimbo Correa mapeou as nascentes em 1918 com ajuda dos Pioneiros Rodrigues
Tire suas dúvidas no livro “águas Thermas de Mato Grosso”
Rondonópolis teve sua Pedra fundamental em 1902 quando Manoel Rodrigues dos santos Conrado fez sua casinha na orla do Rio vermelho e quando seu primeiro filho Antônio Nasceu em em 1903.
Se ele nasceu em Rondonópolis em 1903 é porque o lugar já existia
70 anos.