(*) Brasilino da Silva
Abandono é gênero da espécie cara de paisagem ou vistas grossas
Grossas ou finas é certo que rompem liames da atração de ambos
Nos ambos já se calcificaram o mandante e o mandado da relação
Um abandona e o outro é abandonado nas fronteiras da dedicação
No fim das contas acho que ambos sofrem as bramuras da situação
Esgarçada já que um dia se desejaram, quiseram se amaram muito
Até dia que dono abandona o lote do desejo de tempos de antanho
Novo laudêmio pode remir o quinhão abandonado pelo usucapião
Ser abandonado é melancólico
Fim de linha de qualquer
Coisa ou gente, tenra ou velha
Que sente as dores do esquecimento
Sentimentos de abandono é o mal que lhe tortura e ele vai lhe matar
Sentença do anjo candura aura dourada, rugas na testa difícil missão
Como a mula do Balaão teve de lhe dizer o obvio: Burro abra o olho
Olha! Vinde e vede disse ela puxando pelas linhas soltas dos tempos
Do pouco que vi, uma inusitada mala da vida indicar-lhe-á o caminho
Olhei e vi, não nas nuvens, mas no retrospecto porquês de submissões
Modos sombrios coletivos de construir abandonos que torturam almas
Diferente do lote de final feliz, abandono criou passivo até hoje sem fim
Parece bem
Apesar de só
Na arqueologia da dor
Abandono se faz luto
Luto é redentor.
(*) Brasilino José da Silva é poeta em Rondonópolis