À primeira vista, alguém poderia pensar que o tema da segurança pública é dever do Estado e que a Igreja ao tratar desse assunto estaria extrapolando sua competência. Mas não é bem assim. A Igreja não é indiferente ao que diz respeito ao bem das pessoas e da sociedade em geral. Por isso, ela tem sempre uma palavra a dizer quando se trata da dignidade da pessoa, dos seus direitos e das condições e exigências para uma convivência segura e em paz entre os cidadãos. Além disso, a responsabilidade de construir uma sociedade mais justa e, portanto, mais segura é direito e responsabilidade de todos nós.
A vida social em convivência harmônica e pacífica está se deteriorando. Cresce a violência, que se manifesta em roubos, assaltos, sequestros, e o que é mais grave, em assassinatos que, a cada dia, destroem mais vidas humanas e enchem de dor as famílias e a sociedade inteira. Entre suas causas, a idolatria do dinheiro, o individualismo, a falta de respeito pela dignidade de cada pessoa.
Como discípulos e missioná rios de Jesus Cristo devemos assumir as tarefas que contribuem para a dignificação do ser humano e a trabalhar com os demais cidadãos e instituições para o bem da pessoa, da comunidade e da sociedade, algumas sugestões que podem contribuir para alcançar o objetivo da campanha da Fraternidade: organizar para os bairros uma polícia comunitária que trabalhe junto com os demais moradores; criar cursos profissionalizantes para os presidiários que favoreçam seu retorno à sociedade, fortalecer, a instituição familiar, restringir o uso de bebidas alcoólicas em certos lugares públicos e em determinados horários, favorecer uma educação de qualidade para todos e incentivar maior participação da família no dia a dia das escolas; investir em políticas públicas em favor dos excluídos; investir em projetos de educação e prevenção contra o uso das drogas, fortalecer o combate ao tráfico; favorecer a formação ética dos agentes de segurança pública, e valorizar a formação religiosa das crianças e jovens.
O objetivo da campanha da Fraternidade de 2009, é uma temática muito difícil, mas que mobiliza o dia a dia das pessoas que estão sofrendo muito, estão com medo, em função das várias violências que existem. Usamos a metodologia do Ver, Julgar e Agir. O Ver é um diagnóstico de como estamos analisando a situação. Apontamos as razões do medo da população brasileira e a questão da injustiça. A sociedade brasileira tem um discurso de não ser violenta, mas, na prática, ela é hierarquizada, segmentada, altamente discriminatória e muito violenta. E ela é muito violenta com quem? Exatamente com quem é mais vulnerável: com os idosos, com as crianças, com os pobres, com aqueles que têm moradia subumana, e isso, em si, já é uma violência e as pessoas consideram natural o que não é natural. Isso é uma questão de segurança pública, sim.
Vendeu-se uma idéia, no Brasil, de que a segurança pública é política matando bandido quando, na verdade, segurança pública é um sistema que se cria para gerar tranqüilidade e ordem pública, para que as pessoas vivam sem medo, sejam com tranqüilidade. É assegurar a cada cidadão que ele possa viver tranqüilamente onde ele quiser. Ao mesmo tempo é necessário ter uma política habilitada a compreender e ser tolerante, mas não ser leniente com o crime, que é a questão da corrupção, um dos flagelos da sociedade brasileira. As pessoas têm medo de andar na rua, pois pode ser que aconteça alguma coisa. Isso é violência subjetiva. Não tem um fato concreto, mas há, no imaginário, algo que pode vir a acontecer a qualquer momento, pois as pessoas não sentem que o lugar onde elas moram tem um clima de tranqüilidade e de paz capaz de gerar a ordem pública, fruto do cumprimento das regras, não só as regras Legais, mas as regras da convivência, da solidariedade.
O tema da Campanha da Fraternidade de 2009, é muito atual e acontece em um momento em que nos assusta o nível de insegurança, não apenas nas ruas, mas, principalmente, dentro de casa.
(*) Equipes Diocesana de Campanhas