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Rondonópolis
, 19 julho 2025
 
 

A grande notícia da viagem à China

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(*) Luís Otávio

A economia brasileira vive uma cilada há décadas. A estabilização monetária conquistada por meio do Plano Real estabeleceu um nível de taxa de juros muito elevado. A conjunção de baixa inflação, câmbio flutuante e ampliação das despesas governamentais, ao longo do tempo, só pôde ser equacionada através do pagamento de um prêmio de juros elevado. Qualquer sinalização de maior independência monetária e fiscal, como a ampliação do déficit público e a redução da taxa Selic, incentiva a fuga de capitais para o exterior e, consequentemente, a desvalorização do Real. A “desancoragem” das expectativas dos agentes no mercado financeiro, oriunda da percepção de risco fiscal, desencadeia pressão inflacionária que força o Banco Central a elevar a taxa Selic, revertendo o crescimento econômico.

A constatação é de que a política econômica brasileira, em qualquer governo, possui pouca liberdade. Isso ocorre porque a taxa de câmbio determina os preços dos bens transacionáveis com o exterior, tais como alimentos, combustíveis e insumos de produção que possuem elevado impacto sobre os demais preços da economia. Atingir a meta de inflação depende muito mais do nível do câmbio do que dos patamares de renda e emprego da população brasileira. Como atestava o célebre economista Mário Henrique Simonsen; “A inflação aleja, mas o câmbio mata”.

Felizmente, essa dependência pode ser reduzida. O Banco Central assinou com esse intuito, recentemente, um acordo com o Banco Popular da China estabelecendo uma linha de Swap cambial de R$ 157 bilhões. Isso significa que em situações de redução da liquidez no mercado de câmbio, e desvalorização acentuada do Real frente ao Dólar norte-americano, o Banco Popular da China poderá comprar Reais em troca de Yuans, a moeda chinesa. Essa linha de crédito visa ampliar a liquidez e fortalecer a estabilidade do Real. A tratativa possibilita, também, aos agentes econômicos pagarem diretamente em Yuans os bens e serviços importados da China.

Outra possibilidade interessante discutida trata do investimento chinês em títulos do Tesouro Nacional. A China está acelerando a estratégia de diversificar a carteira de ativos de suas reservas internacionais, em virtude do risco de sequestro desses valores, em caso de acirramento do conflito geopolítico com os Estados Unidos. Isso ampliaria a demanda pelos títulos da dívida pública, facilitando a condução da política monetária de financiamento do Tesouro Nacional, reduzindo o prêmio de risco e ampliando os prazos de maturação.

Esse distensionamento do endividamento público é essencial, pois um ajuste fiscal exagerado pode desaquecer a economia, antes de se consolidar um ciclo favorável de investimentos produtivos. Por outro lado, a leniência fiscal, com crescimento descontrolado do endividamento, pode induzir uma disparada inflacionária difícil de ser controlada. Vale dizer que os fundamentos fiscais brasileiros requerem medidas estruturais adicionais para serem sustentáveis a longo prazo, por exemplo: i) alinhamento das despesas do Judiciário e do Legislativo às metas fiscais; e ii) estabelecer um limite único de crescimento para todas despesas: salário-mínimo, saúde, educação e incentivos fiscais.

Esse conjunto de medidas em um regime democrático demanda uma pactuação complexa e demorada. E essa fragilidade institucional favorece a ocorrência de instabilidades, como a vivenciada em dezembro de 2024, em que a taxa de câmbio alcançou R$ 6,20. A importância do acordo firmado pelo Banco Central e o Banco Popular da China reside em facilitar a superação desse problema. Ao contrário dos gestores de fundos de investimento da Faria Lima, que buscam ganhos de curto prazo e que são sujeitos a pânicos em manada, a estratégia chinesa prioriza o fortalecimento das relações comerciais e geopolíticas de longo prazo. A aproximação dos dois bancos centrais contribui, portanto, para a estabilidade macroeconômica brasileira. Quem terá agora coragem de apostar contra o Real e o dragão chinês?

(*) Luís Otávio Bau Macedo é professor associado do curso de Ciências Econômicas e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis – Contato: [email protected]

 

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