O mundo está num processo acelerado de desenvolvimento tecnológico, mas passa a percepção que cada vez mais ficou distante a possibilidade da humanização do indivíduo moderno. A ideia da necropolítica está produzindo a morte do pensamento crítico e vida da geração de humano, que situa na territorialidade da existência contemporânea. Porque no contexto da existência, o que movimenta a roda da rebeldia é o que está plugado a autoimagem da selfie, que gira sem causa determinada.
O que significa que na arena da relação e valores, vai-se produzindo um deslocamento político, para extrema direita, balizada no fundamentalismo religioso, como última caverna do desejo de salvação. Uma espécie de purgatório coletivo, vinculado a congregação do deus seja louvado na mais valia, que simboliza o estágio de mercadorização do capital a serviço da teologia e eclesiologia do domínio. A política instituída enquanto expressão de sublime caridade que se concretiza como bem-coletivo, está sendo desfalecida como uma folha seca ao sabor do vento, como estratégia do negacionismo e despolitização da massa, que não compreende a sua importância no processo de definição da vida social. A morte mais cruel da política está na estruturação do estado e poder, para produção da miserabilidade humana no contexto do mundo da vida social.
O projeto de civilidade que se fundamenta numa base ideológica para estruturação e consolidação da democracia, faz-se necessário. Contudo, a ordenação política que se curva ao desenho, a imagem e semelhança do modo de ser do fubá mimoso, como frontispício da escultura que justifica a razão e mentalidade que cinge ao poder da maldade, aniquila a vida social, através da promoção do medo e violência. Da mesma forma, o indivíduo que conquistou mandato popular, vinculado a uma estrutura partidária, na sequência passa a assumir a pedagogia do “fogo apagou”, que no percurso do caminho apaga a sua ligação de origem, para circular num espaço sem direção. A prática política que se passa a ideia que não está ligado a um paradigma de sociedade contribui com a despolitização e negação da educação da cidadania, porque sucumbe o projeto de civilidade que dá a direção da construção da cidade.
A arena da política é sempre um horizonte a ser devastado, porque neste espaço circula muita gente, com interesses e valores diversos. O que significa que é muito engraçado desvelar o que plasma na mente humana, num mesmo movimento deseja a liberdade e conspira contra a própria condição de ser livre. A contradição fica evidente na esfera da política quando o indivíduo clama pela liberdade de expressão, mas vota em candidato negacionista da política e da vida. Com a mesma intensidade, vai à praça na defesa do poder da maldade de caráter autoritário. Entender a engenharia da vida humana é um desafio, porque o mesmo indivíduo que manda fabricar estátua da liberdade, crava na mente e coração, o desejo que gera o cultivo do fetiche mitológico, revestido no casulo do poder autoritário.
Contudo, porém, todavia, a reflexão aqui proposta não significa anular, o princípio da negociação política, para o exercício da governabilidade social da cidade. Compreendo que a eleição sempre foi e será constituída e gerida num processo de negociação, com partidos e eleitores para chegar ao poder, visando comandar, administrar e promover a governação da cidade. A questão que precisa ser pensada criticamente, refere-se ao fato do exercício do mandato, dissociar-se da configuração de que o partido é a hegemonia da direção catalisadora do protagonismo popular. Ao comportar como a centralidade do poder para girar em torno de mistificação da subjetividade, vai plasmando o autoconceito da ausência de projeto, ideologia política e civilidade, para focar em persona de indivíduo que se reveste da figura de mistificada de bondade, empobrecida da arte de si.
No contexto da configuração da vida real, atrelada a ideia de “mores e thanatos”, vertebrada a desesperança da sociedade do “cansaço e decepção”, induz a geração a construção de túmulo da democracia popular e da condição de tornar-se sujeito livre. No vácuo da formação política libertadora, ganha sobrevida o projeto de poder que fere de morte a geração, sobretudo a juventude, porque passa a ser seduzida pelo comando da aparência do real sentido e significado do poder político. Conecta o analfabeto bíblico e político a ignorância social que reconduz “a mente e coração” a sombra da caverna, para se unir aos companheiros no cativeiro.
A visão dualista de mundo orientada pela culpabilidade, medo e religião abstrata, comprometida com a reprodução do horizonte da vida, a imagem e semelhança do demiurgo, enquanto subproduto tomado pelo mundo das ideias, focado na crendice de que o mito é a expressão superior que pode governar a massa. No mundo da vida real, o indivíduo que olhar a realidade política pelo retrovisor da aparência, se depara com a prática política fundida na maneira de ser e agir do “fubá mimoso”, não ajuda na inclusão e formação da consciência política de sujeito para si, tampouco da radicalização da democracia popular. O que significa que o ato do mergulho do indivíduo no espaço da aparência, não possibilita compreender que no mundo real, o baile da vida virou consórcio e o subterrâneo da política tornou-se um armazém de negócio entrelaçado no público-privado. Portanto, para a geração mistificada, um projeto político que investe na formação de sujeito e sociedade emancipada, pouco tem a dizer a essa geração de consciência chafurdada na reificação coletiva.
O que se pode inferir da prática política confiscada pela cosmovisão do “fubá mimoso”, é que a ação de fazer o bem, política com expressão sublime do ato de caridade, na perspectiva da produção de melhor qualidade de vida e inclusão social a serviço da coletividade, no tempo do individualismo egoísta, muda raramente a cabeça do povo. O que na prática tem mudado a cabeça da geração tem sido a mistificação da tecnologia, “medo do inferno e da liberdade”, revestido do cerco da desesperança, que enruste no universo de uma religião de caráter negacionista da vida e do amor outro.
A vida é uma luta política, faz-se liberdade, sem medo de ser feliz.
(*) Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho/UFR