Os indicadores macroeconômicos sinalizam ao início de uma nova conjuntura que se avizinha. Após os efeitos contracionistas da pandemia e da necessária expansão fiscal, voltada à ampliação da demanda agregada nos últimos três anos, a economia caminha em direção ao seu maior desafio. Apesar da ênfase da mídia e de analistas econômicos na questão fiscal, o salto de qualidade a ser enfrentado não reside na geração de superávits orçamentários ou, muito menos, na redução do endividamento público. Os indicadores fiscais são razoáveis e não remetem a riscos importantes.
O jogo a ser jogado se refere ao incremento da taxa de investimento (formação bruta de capital fixo) e a expansão da produtividade da economia brasileira. Ambos são os determinantes a longo prazo para a ampliação do nível de renda e de emprego e a redução das desigualdades de nossa sociedade. Após uma década de instabilidade institucional e estagnação, o crescimento recente é algo a ser comemorado, porém, o incremento modesto de 2% anuais é insuficiente para se alcançar as mudanças estruturais necessárias. Uma economia que ofereça estabilidade macroeconômica com inflação baixa e previsibilidade é apenas um pré-requisito necessário.
A discussão teórica a respeito do crescimento econômico enfatiza a importância do avanço tecnológico e o aprimoramento do capital humano via educação de qualidade. A complexidade econômica ao ser difundida pelos setores produtivos gera a adição de valor que oportuniza a criação de empregos de maior qualidade. A forma de se alcançar esse resultado requer a superação da dicotomia entre Estado versus Privado, em prol de uma interação ganha-ganha, entre redes cooperativas de inovação que incluem agentes públicos, empresas e a sociedade civil.
O segredo reside na interação dos agentes econômicos via a atuação sinérgica das políticas públicas com a participação da sociedade e do setor privado. Os casos internacionais de sucesso atestam isso. Os “milagres” econômicos alemão, japonês, da Coreia de Sul, e mesmo da China, residem no desenvolvimento de arranjos horizontais de governança pública com o setor privado, para se alcançar metas ambiciosas de desenvolvimento econômico. Não há uma receita de bolo a ser seguida, ao contrário, cada nação necessita formular o seu próprio modelo para alcançar esse propósito de dinamização produtiva.
Nesse cenário, como se apresenta a posição brasileira? O Brasil se ressente da emergência de um novo consenso nacional que motive a superação dos seus desafios de ação coletiva. O debate social, e mesmo econômico, ainda se defronta com visões maniqueístas que ressaltam a importância dos elos privado ou estatal, minimizando os atributos da cooperação e da sinergia requeridas para a modernização nacional. De certa forma, a nação regrediu nesse propósito. A discussão pública deixou de mirar grandes desafios e passou a se iludir por quimeras sem importância que são compartilhadas pelas mídias.
O pior é que a elite política brasileira mimetiza esse padrão míope de análise. O sucesso ou insucesso político reside em abocanhar emendas parlamentares que atendam interesses paroquiais. Pensar o Brasil de maneira mais abrangente e aglutinar interesses divergentes em grandes pautas estratégicas não enche o estômago das urnas. A sustância de votos reside no populismo das frases prontas e dos memes na internet. As elites pensantes na academia, nos meios empresariais e na sociedade civil imergiram em meio ao tiroteio ideológico, já que numa guerra a melhor escolha é se proteger numa das linhas da frente de combate.
A recente comemoração dos trinta anos do Plano Real aponta para outra direção. A estabilização monetária foi bem-sucedida graças ao crucial engajamento da população e da minimização de incertezas a partir da construção de um consenso coletivo. Portanto, os próximos dois anos requerem realismo. Não haverá um desastre econômico com a política econômica atual, porém, ao mesmo tempo, não existem as condições para uma trajetória de crescimento robusto da economia brasileira. Em síntese, o caminho a ser percorrido requer, primeiro, que se saiba para onde vai!
(*) Luís Otávio Bau Macedo é professor associado do curso de Ciências Econômicas e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis. Contato: [email protected]
Excelente como sempre na análise, uma leitura sensata e sem viés ideológico.