
O cenário econômico indica que Mato Grosso deve enfrentar uma reversão do acelerado crescimento observado recentemente. A conclusão é decorrente da análise da conjuntura agropecuária estadual em 2024. Dois processos distintos tendem a prejudicar os indicadores agropecuários e, portanto, influenciarem negativamente a atividade econômica e a arrecadação do setor público.
O primeiro é oriundo do efeito do atraso e intermitência da estação de chuvas na safra de verão que acarreta uma estimativa de redução da produtividade da colheita de soja de 13,99% em relação à safra 2022/23, segundo o IMEA – Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (**). Adicionalmente, o atraso na colheita da soja deve influenciar negativamente a safrinha de milho, ocasionando redução média de 11,11% na produção estimada. As projeções ainda dependem da evolução climática nos próximos meses.
O segundo é decorrente da tendência de queda dos preços de comercialização, sendo que a saca de soja que chegou a ser cotada em Rondonópolis a R$ 187, em março de 2022, está sendo vendida a R$ 107, em janeiro de 2024. A saca de milho, no mesmo período, apresentou redução de R$ 76,33 para R$ 40,30.
A gravidade dessa combinação de fatores pode ser vislumbrada através da projeção de um valor bruto da produção agropecuária de R$ 161,7 bilhões em 2024, em contraponto aos R$ 202 bilhões obtidos durante 2023. Ou seja, uma queda de 20% do valor agropecuário estadual equivalente a R$ 40 bilhões. Destaque-se que a tendência de declínio dos preços, nos últimos dois anos, pôde ser compensada pela elevada produtividade das culturas. Isso garantiu boas margens de lucratividade.
Entretanto, na safra 2023/24 há uma convergência de queda de preços e de produtividade que compromete a rentabilidade dos produtores rurais. Considerando os preços atuais, segundo o IMEA, a produtividade média deve cobrir apenas os custos operacionais, gerando prejuízo ao se considerar os custos com depreciação, pró-labore e de oportunidade.
A fragilidade mato-grossense, nesse cenário, decorre da participação de 53% do agronegócio na economia estadual(***). A retração do valor bruto agropecuário em 2024 sinaliza que a economia mato-grossense pode apresentar um decréscimo de até 10,6% do PIB, computando somente os valores agregados da agropecuária, agroindústria e agrosserviços.
Evidentemente, esse resultado pode ser parcialmente compensado por outros fatores que venham a impulsionar as demais atividades econômicas. Por exemplo, obras e investimentos públicos em infraestrutura, tanto estaduais como federais, apresentam perspectiva de incremento que pode disponibilizar um efeito anticíclico relevante. De toda forma, apesar da complexidade da projeção, parece evidente que a conjuntura vai ser desafiadora.
Uma forma de mitigar essa tendência seria a adoção de políticas públicas compensatórias que, contudo, requerem que o estado e os municípios tenham acumulado, previamente, folga fiscal. Felizmente, essa condição tem potencial de ser atendida pelo governo do estado de Mato Grosso que possui classificação de gestão fiscal “A” concedida pela Secretaria de Tesouro Nacional. Por sua vez, o município de Rondonópolis apresenta classificação de “excelência” com indicador de 0,9060 pelo Índice Firjan de Gestão Fiscal. Complementarmente, ambos dispõem de articulação política para a ampliação dos repasses e investimentos junto ao governo federal. Essas condições serão essenciais para o enfrentamento do desaquecimento econômico previsto para 2024.
(*) Luís Otávio Bau Macedo é professor Associado do curso de Ciências Econômicas e do Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal de Rondonópolis. Contato: [email protected]
(**) Nascimento, A. P. P do; Figueiredo, A. M. Rodrigues; Miranda, P. R. Dimensão do PIB do agronegócio na economia de Mato Grosso. Ensaios FEE, v. 36, n. 4, p. 903-930, 2018.
(***) Boletim semanal de 15/01/24: https://imea.com.br/imea-site/