Janeiro Roxo é uma campanha nacional criada com o objetivo de chamar a atenção da população sobre sintomas, prevenção e tratamento da hanseníase. A doença pode causar incapacidades físicas, principalmente nas mãos e nos pés. Apesar de ser uma doença milenar, descrita na Bíblia, o número de casos ainda é bastante elevado. O Brasil ocupa a 2ª posição no mundo em maior número de casos, ficando atrás somente da Índia. De janeiro a novembro de 2023, o Brasil diagnosticou ao menos 19.219 novos casos de hanseníase. O resultado é 5% superior ao total de notificações no mesmo período de 2022.
Segundo informações do Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase, do Ministério da Saúde, o estado de Mato Grosso segue liderando o ranking das unidades federativas com as maiores taxas da doença. Até o fim de novembro, o total de 3.927 novos casos no estado já superava em 76% as 2.229 ocorrências do mesmo período de 2022.
Considerando apenas os menores de 15 anos, em 2023 foram notificados 97 casos de hanseníase em MT. É uma doença que acomete populações com menor acesso aos serviços de saúde, baixo nível de saneamento, escolaridade e renda, as chamadas populações negligenciadas.
A Hanseníase é uma doença infecciosa causada por uma bactéria, Mycobacterium leprae, também chamada de bacilo de Hansen.
Transmissão
A transmissão se faz através de secreções da nasofaringe e gotículas de saliva eliminadas pela fala, tosse ou espirro, da mesma forma que se transmite o resfriado. Não se transmite a Hanseníase por beijo no rosto, abraço ou compartilhamento de objetos. Apenas uma pequena parcela da população infectada realmente adoece, muitos indivíduos não transmitem a doença, pois têm um sistema imune que destrói a bactéria. O período de incubação, ou seja, tempo em que os sinais e sintomas se manifestam desde a infecção, é, em média, de 3 a 7 anos, podendo chegar até 20 anos.
A doença pode acometer ambos os sexos e qualquer idade. Não mata, mas pode deixar sequelas incapacitantes.
Manifestações Clínicas
A Hanseníase se apresenta como manchas e nódulos na pele e acometimento dos nervos periféricos. As manchas podem ser esbranquiçadas ou avermelhadas. Algumas vezes, pode-se observar placas, que são manchas elevadas. As manchas têm alterações na sensibilidade ao calor, ao frio e à dor. Os nódulos ou caroços podem estar presentes, em algumas formas de Hanseníase e em alguns casos são avermelhados e dolorosos. Pode apresentar inchaço no rosto, nas orelhas e sensação de nariz entupido.
O comprometimento dos nervos periféricos se apresentam com sensação de formigamento, dormência, fisgadas, engrossamento (espessamento) ou diminuição ou ausência de sensibilidade, especialmente nas mãos e nos pés.
Como existe o acometimento do nervo periférico, o paciente não sente uma pedrinha no sapato, não sente ao pegar uma panela quente, isso leva a ferimentos em suas atividades diárias. Estes ferimentos podem evoluir com infecções bacterianas secundárias que podem atingir o osso e levar a perdas de partes do corpo.
É o acometimento dos nervos periféricos que levam a sequelas que tanto estigmatizam a doença.
Diagnóstico
O diagnóstico é essencialmente clínico, através de uma anamnese detalhada e exame físico constando exame dermatoneurológico que consiste na avaliação das manchas com alterações de sensibilidade térmica, tátil e dolorosa, além da pesquisa de espessamento neural. Complementarmente pode ser feita a baciloscopia que verifica a presença de bacilos na linfa coletada dos lóbulos das orelhas, cotovelos, joelhos e em alguns casos, a baciloscopia pode ser coletada da própria mancha.
Tratamento
No SUS, o tratamento farmacológico da hanseníase é feito com antibióticos, a poliquimioterapia. Parte do tratamento é feito no Posto de Saúde, são as chamadas doses supervisionadas mensais. Além destas, o paciente toma antibióticos em casa diariamente também.
O esquema terapêutico deve ser usado por um período que pode durar de 6 a 12 meses. A duração do tratamento varia conforme a forma clínica da doença, pacientes com a forma paucibacilar, a duração é de 6 meses e nos pacientes com a forma multibacilar, a duração é de 12 meses. É importante que o paciente faça o tratamento completo pois a cura só é obtida com o tratamento feito até o fim.
Quanto aos cuidados em casa, não é necessário isolar o paciente nem separar talheres ou mudar de quarto pois após a primeira dose supervisionada a chance de contágio cai drasticamente.
Todos os contactantes domiciliares devem ser encaminhados para o Posto de Saúde para serem examinados. Os que estiverem doentes serão encaminhados para tratamento e os que não estiverem serão encaminhados para tomar uma dose da vacina BCG, que protege parcialmente de formas graves da hanseníase.
O Ministério da Saúde alerta que quanto mais precoce se diagnosticar a hanseníase, mais cedo a pessoa será tratada, e assim se evitará sequelas.
O tratamento impede a transmissão da doença, o paciente não é mais contagiante mas o dano no nervo é irreversível, por isto, o diagnóstico e o tratamento devem ser feitos o mais precocemente possível.
Mas mesmo com sequelas, não quer dizer que o paciente vá sofrer para sempre com a incapacidade, a atuação de uma equipe multiprofissional pode ajudar a minimizar os danos.
A doença tem cura e o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente o diagnóstico e o tratamento nas Unidades de Saúde da Atenção Primária e, em alguns casos, o paciente pode ser encaminhado para os Serviços de Referência.
Não se descuide. Em caso de suspeita, procure a unidade de saúde mais próxima de sua casa. Hanseníase tem cura!
(*) Dra. Natasha Slhessarenko é pediatra e patologista, representa Mato Grosso no CFM, é docente da UFMT, fundadora da Clínica Vida Diagnóstico e Saúde e é Diretora Médica de Análises Clínicas do Laboratório Alta (desde 2018)