Há 10 anos escrevi um artigo para esta mesma coluna: cheguei aos 70! Então, o que posso dizer dez anos depois? Quem sabe posso dizer que aprendi algumas coisas, quem sabe úteis. Aprendi a aprender, pois aprender é uma arte e o aprendizado é pela vida inteira
Aprendi com Gardner, que ninguém é inteligente para tudo e nem sempre é inteligente. Por certo, Einstein não seria brilhante enquanto músico no manejo com o seu inseparável violino, que chamava de Lina. No entanto, foi um dos maiores gênios de todos os tempos, incontestável, no campo da ciência. Conheci mestres e doutores, muito inteligentes a nível de intelectualidade, mas que chegaram à oitava década de vida sem possuir, sequer, uma casa para morar. Certa vez conheci um peão, com apenas dois anos de estudos, que se transformou em um grande fazendeiro. A chamada inteligência financeira.
Aprendi a valorizar as pessoas pelo caráter, gratidão, honestidade, amizade sem cobranças, humanismo, respeito e amor ao próximo, não pelas suas escolhas, ausência de agravos, idade, diferenças culturais e herança genética.
Aprendi a admirar as pessoas que chegaram ao sucesso sem perder a humildade, a ternura e a sensibilidade social, mas também aprendi a valorizar as pessoas que não chegaram lá, mas não se tornaram amargas e nunca se cobraram por isto. Então, qual é o real significado do sucesso?
Aprendi que quanto mais idade atingimos, maior é a percepção da velocidade na passagem vital. Quem sabe a percepção de um jovem adolescente é de que, para chegar aos cinquenta, faltam duzentos anos. Aos setenta e cinco um ano vale cinco! – diz o dito.
Aprendi a diferenciar os sintomas de doenças com o envelhecimento. Nem sempre fácil. Aprendi, também, que o organismo não envelhece de uma vez mas por setores, de acordo com a genética e com os hábitos de vida.
Aprendi a identificar (e a aproveitar) os meus potenciais ainda existentes, mas respeitando meus limites.
Aprendi que passamos a vida com mais problemas que soluções e mais oportunidades de gastar do que ganhar. Por isto, aprendi a definir e a exercitar minhas prioridades atuais e não a lamentar as que foram – ou deveriam ser – em outras idades. Aprendi a não correr atrás de problemas, mas não deixar de enfrentá-los e desenvolver a difícil arte de evitá-los.
Aprendi a ser grato, sendo mais amigo e mais companheiro. Aprendi a desenvolver mecanismos de aproximar e contatar, com mais frequência, as pessoas que amo, mas respeitando sempre seus quereres.
Aprendi a planejar mais e improvisar menos, mas sempre lembrando o ensinamento de Matus que o planejamento se refere ao presente.
Aprendi a separar o “o joio do trigo”, ou seja, a criticar a todos pelo que me ensinaram e os que disseram, falaram e divulgaram “verdades” duvidosas – agora, em tempos de IA, mais, ainda – até a mim, mesmo, pelo que disse e fiz, pois da crítica construtiva que crescemos. Aprendi que na crítica está o berço da mudança de paradigmas. Aprendi a ter mais paciência e a respeitar o padrão de funcionamento de cada um.
Aprendi a não “brigar” por pouca coisa – não vale a pena! – mas fazer valer os meus direitos. Aprendi a ser humilde mas não humilhado. Aprendi a entender que sou avô e não pai dos meus netos. Meu tempo há muito já passou. Aprendi, também, com Gibran, que nossos filhos são adultos como quaisquer outros, com os seus deveres, mas com direitos de decisão e de segredos, assim como nós, e que o dever primordial dos pais é estimular os filhos a chegarem à maturidade, ou seja, à total independência emocional e financeira.
Aprendi, com a metáfora de Antoine, sobre o desenvolvimento e à solidez da amizade: “não espere usufruir a sombra de uma árvore e colher seus frutos daquela que plantastes ontem!” Aprendi, com Rousset, que “quem não sabe dizer não para os outros não sabe dizer sim para si”. Aprendi, com Freire, que as palavras comovem, mas o exemplo arrasta! Aprendi que podemos crescer nas dificuldades e que dos maus momentos podemos extrair coisas boas. Aprendi que o bom estilo de vida prolonga o outono, antes de chegar ao inverno. Aprendi, por fim, com Howard, que é preciso desaprender para aprender.
(*) Luiz Carlos Prietch é Médico e cidadão de Rondonópolis.