(*)


Faz 134 anos que foi proclamada, oficialmente a Abolição da Escravatura no Brasil. De lá para cá, muitas foram as tristezas, sofrimentos, descaminhos, frustrações, medos desilusões, perseguições, falsas promessas, desatinos; uma verdadeira “Rua da Amargura” para Negros Pobres e Brancos Pobres; linchamentos, acusações e prisões injustas; julgamentos enganosos, errados, perversos. Também houve melhorias, em número bem reduzido, progressos, felicidades, alegrias, sendo essas conquistas, majoritariamente, bancadas por nós mesmos, nossos pais, nossos avôs e avós; poucos amigos de fato.
No balanço geral, saímos perdendo, sofrendo o Racismo que já vinha de antes, o qual aumentou e aprofundou-se, e nos fez mais vitimados, pobres, doentes. Enfim, graças a nós mesmos negros e brancos pobres, não desaparecemos, não somos seres humanos mais rebaixados e inferiorizados. No início da vida Republicana no Brasil, um dos objetivos da Elite Brasileira era o extermínio de nossa raça e nossa classe. Um dos sentidos da imigração europeia, branca e cristã, tinha tal finalidade também.
Desde a República Velha, a condição geral do negro e do branco pobre não atingiu a plenitude alcançada pelos Direitos Humanos. Não havia, por aqui, Direitos; somente Deveres e repressões sobrepunham ao único Direito à Vida, que sobreviveu capenga, reinaugurado pela Revolução Francesa: O Direito à Vida era aviltado, encerrado bruscamente; muitas vezes a Justiça Social era uma aventura contra o negro pobre e o branco pobre. Passar dos cinco anos de idade era sorte.
E o Brasil seguiu pela República adentro explorando, dominando o negro e o branco pobre. Em 1930 pareceu que seria interrompida a série de agressões e transgressões, ao ser criada a FNB (Frente Negra Brasileira) partido político criado pela comunidade negra paulistana que se propunha a disputar o Poder Político. Sua presença na realidade brasileira foi tão rápida (1930 a 1937) que mal teve tempo para ‘errar direito’, sendo sua trajetória de acertos muito menor; mas, “deu a cara pra bater”.
Face ao fracasso do fascismo europeu, nós negros viramos a chacota e a ‘fantasia’ da Nação; além de nossos problemas materiais severos, passamos a ser um espetáculo; o centro do espetáculo dos brancos da elite e remediados, para a modelagem da “Alma Nacional”. Os reis do Samba produziram o maior espetáculo da Terra: a “mulata sensação”, a “cor tigresa”, “o moreno que me enlouquece”; a miscigenação antes era proibida passa a ser o orgulho da “raça” até mesmo ao ponto de se desenvolver o racismo intrarracial e inter-racial.
Assim, apesar de todas essas aparências de mudança, o negro e o branco pobre continuavam no seu espaço vertical e horizontal enormemente pobres, senão miseráveis, doentes, analfabetos ou semianalfabetos. No entanto, tornavam-se conhecidos, famosos, sambistas, chefes de escolas de samba. Alguns poucos enriqueceram; o que foi o bastante para se embranquecerem mais ainda. Essa curiosa pequena-integração-rebaixada do negro e branco pobre parece, não sem várias dissenções, ter ocorrido dos anos de 1960 até o fim da Ditadura Militar- anos de 1980. E nesse movimento nossas religiões foram em parte acolhidas, espalhadas, adotadas, distorcidas, adoradas;
momento no qual o mito do “Negão Jóia” feliz, do “negro de alma branca” foi ganhando mais espaço.
Todo esse movimento de grande dinamismo, não retirou o negro pobre da pobreza, da miséria; também fez mais do que se diversificar o Racismo. A “Democracia Racial” costurou o restante do tecido social, e negros pobres e brancos pobres passaram a ser, aparentemente, mais felizes, pois as copas mundiais auxiliaram nesta sensação. Fomos para as periferias e as favelas de madeira e alvenaria, dando-se também a ordem inversa. É claro que frente a este movimento no qual o Samba “pediu e obteve passagem” e que “conquistamos a avenida’, continuamos tão pobres – ou quase pobres, e excluídas da Política e o Poder, doentes, semianalfabetos quanto antes. E mesmo assim auxiliamos a edificação da Cultura Brasileira, de um suposto povo mestiço – por que não dizer negro de fato; e estamos ainda quase na mesma: nossos Orixás foram reduzidos, distorcidos, levado; nossas
Inquices e Voduns também o foram… E assim chegamos a nossa contemporaneidade. Assim passaram mais diferentes gerações:
1. Hoje somos a maioria dentre os 12,9 milhões de desempregados;
2. Nos situamos, folgadamente entre a maioria dos desalentados, que somados aos desempregados e os que estão fora da economia, ultrapassam a casa dos 20 milhões;
3. Somos nós os enfrentadores e as vítimas do Racismo e da Injúria Racial (Racismo mais brando), da hipocrisia, da Ironia;
4. O Racismo e o Machismo incidem especialmente sobre as mulheres negras;
5. A Inflação de pelo menos de dois dígitos contempla principalmente negros pobres e brancos pobres (subconsumo, entre outros);
6. Abonos salariais oficiais (pagamentos de miséria?);
7. Prolongamento da jornada de trabalho (há no “Novo Normal”, ocorrência de jornadas de trabalho de 7 a 14 horas);
8. Escravidão por dívidas ou Condições de Trabalho Análogas às condições de Escravidão – maioria dos resgatados são negros e brancos pobres;
9. Racismo Ambiental: negros e brancos pobres são a maioria dos habitantes destas regiões;
10. Moradores em condição de moradia nas ruas: Negros e Brancos Pobres;
11. Vítimas de extermínio nas ruas: Negros e Brancos Pobres;
12. Escolarização básica menor ou população atrasada em relação a idade escolar;
13. Racismo Institucional e Sistêmico: maioria afetada são Negros pobres e brancos pobres, principalmente na atenção básica, junto a órgãos públicos e
14. Mortalidade materno-infantil de mulheres negras: ocorrem na maior parte dos casos por racismo e/ou negligência;
15. Nós brancos pobres e negros pobres tivemos nossas vidas mais ceifadas que a maioria entre as vítimas fatais da ação policial e do recolhimento nos presídios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consultando rapidamente o Espírito de Sankofa, Êle aconselhou-nos a observar melhor as experiências da década de 1930: elogiou e admirou todas as iniciativas históricas de negros e brancos pobres, particularmente, mas chamou a atenção ao ano de 1930. Ainda fez questão de frisar que embora se identifique mais com experiências, que envolvem coletividades, comunidades, toda e qualquer ação do tipo de Oxalá, é bem-vinda, mesmo que só se transformam em individuais.
Axé, Motumbá!
Kambaragikam!
(*) Carta aberta escrita pelo Professor Pós-Doutor Flávio Antônio da Silva Nascimento em prol do Movimento Negro de Rondonópolis.
Disse somente verdades, professor, mas falta tanto aqui no Brasil como no mundo inteiro, com raras exceções, respeito e oportunidades iguais para todos. Mas, aqui no Brasil, com essa educação que temos, tanto em família, como na escola, deixa tudo a desejar, com raras exceções. As grandes potências não permitem que o Brasil se desenvolva, principalmente em EDUCAÇÃO, pois, a continuar assim, é um dos maiores produtores de alimento e minerais para abastecer IN NATURA a maioria dos países, pois agregar valores aos nossos produtos é tabu para os lá de fora. para o trabalhador sobra apenas um salário aviltado. A chave seria EDUCAÇÃO, PESQUISA CIENTÍFICA, ALTOS INVESTIMENTOS E FIM DOS PRIVILÉGIOS DAS ELITES DOMINANTES.